Alimentação, um questão de educação

Saiu uma reportagem bem interessante e que é um alerta pra todas as famílias!

"Uma maneira prática de conhecer os hábitos alimentares de uma família é vasculhar a despensa da casa e verificar os alimentos e produtos disponíveis. Legumes em abundância de tipos e cores são bons sinais. Biscoitos recheados, leite condensado, estoque de latas de óleo e refrigerantes na geladeira denunciam um estilo de vida pouco compromissado com a dieta saudável. Precisamos ficar atentos a isso, porque educação alimentar se aprende em casa.

Tanto os alimentos que costumamos comer quanto a maneira como nos alimentamos no decorrer de um dia são heranças da rotina aprendida dentro casa. Isso significa que a semelhança física - e nisso inclui-se a silhueta - entre pais e filhos vai além das características genéticas. Segundo a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva, na maioria dos casos de pais obesos com filhos também muito gordos o problema é comportamental. "A influência genética existe. Quando uma criança é obesa mesmo antes de ir para a escola, com uns cinco anos, deve ser por característica genética. Mas isso ocorre numa porcentagem menor. Maior parte das vezes é uma questão de hábito mesmo", afirma.

Nutricionistas, endocrinologistas e profissionais da área de saúde parecem ser unânimes quanto ao fato de que os maus hábitos alimentares são determinantes na questão da obesidade. "Numa doença complexa e multifatorial como esta não devemos desconsiderar o aspecto genético. Porém, sabemos que a principal causa da obesidade infantil é a influência ambiental. Basta vermos que a incidência da doença vem aumentando e é muito maior em países onde o consumo de fastfood é grande e o sedentarismo, crescente, como ocorre nos EUA". A boa notícia, segundo Dr. Geraldo, é que por ser o fator ambiental o mais importante, ótimos resultados são alcançados quando os pais ajudam a mudar os hábitos alimentares da casa.
Alimentação, comportamento e culturaA socióloga Hilaine Yaccoub passou pela cirurgia bariátrica. Mais conhecida como cirurgia de redução do estômago, ela é indicada para pessoas obesas com índice de massa corpórea (IMC) acima de 40, e que não conseguem perder peso pelos métodos tradicionais, ou para quem sofre de problemas de saúde relacionados à obesidade mórbida. Hilaine acabou seguindo os passos da irmã, que já havia sido submetida à mesma operação, e ficou muito satisfeita com o resultado. Não é à toa que a outra irmã de Hilaine também já tenha recebido a indicação para fazer a mesma cirurgia.
"Somos uma família de gordinhos que sempre se reuniu para comer muito. Temos descendência libanesa e tradição de fazer verdadeiros banquetes nas reuniões familiares. Se juntar para comer é a principal forma de se divertir. Isso é cultural", analisa Hilaine, que perdeu 40 quilos em um ano, trocou o manequim 52 pelo 42 e hoje se sente feliz e livre para curtir a vida. "Quando se é gordo, você não quer se movimentar, não tem coragem de dançar, por exemplo. Depois que fiz a cirurgia e emagreci, todos os meus referenciais mudaram. Você deixa de ser a gorda animada que conta piadas e passa a ser uma pessoa normal, bonita e desejada. Até o paladar muda. Hoje em dia não faço mais dietas. Como chocolate, mas em vez de uma barra, como um tablete, em vez de comer uma caixa de bombom, escolho um, tomo um picolé de frutas no lugar de duas bolas de sorvete. Antes, eu comia quantidade e agora, qualidade", compara Hilaine.
A educação alimentar começa cedo, quando os filhos ainda são bebês e deixam de se alimentar exclusivamente do leite materno. "Se eu der bolacha para a minha filha no lugar da papinha, se der refrigerante na mamadeira dela, é claro que, daqui a um tempo, uma pêra vai parecer a coisa mais absurda para ela", explica Dra. Ellen Paiva.

Dar o exemplo ainda é a maneira mais eficiente de educar. "Pais gordos trazem as crianças obesas ao consultório e querem que os filhos emagreçam. A mãe que faz dieta e passa o dia inteiro sem comer, ou come somente uma maça, também está transmitindo hábitos inadequados. Hoje em dia, é comum os filhos comerem em frente ao computador, não se sentam mais na mesa. Come-se um pouquinho aqui, mais uma coisinha ali... Essa história que não tem começo, meio nem fim. Que refeição é essa?", questiona Dra. Ellen, esclarecendo que organizar as refeições não significa ser rígido o tempo inteiro. "Se a idéia é fazer um lanche, tudo bem. Mas aí o lance é o jantar. O mais importante para educar bem os filhos é o cuidado dos pais com eles mesmos. A reflexão tem que partir deles", defende.
Vínculo com o alimento
Com medo de que seus filhos se tornem obesos e contraiam doenças como a diabetes, a mais comum ligada ao excesso de peso, muitos pais resolvem proibir as crianças de consumir produtos prejudiciais à saúde. A preocupação com o bem-estar dos filhos é muito positiva. Entretanto, estipular a restrição total de alguns alimentos costuma não ser indicado, além de não surtir efeitos. "Não precisa proibir. Se os pais forem habilidosos e comprometidos com as mudanças, muitas crianças em tratamento nem perceberão que estão em dieta. As crianças pedem limites e colocá-los é um gesto de cuidado e amor. Esses alimentos devem ser consumidos em quantidades moderadas e em situações especiais. A alimentação deve ser saudável e dirigida a todos da casa. Com isso, toda a família ganha em saúde", frisa Dr. Geraldo Santana.

O importante é a criança compreender a diferença entre o que é alimento do dia-a-dia e o que é de um determinado dia ou data especial. "Quando éramos pequenos, por exemplo, refrigerante era uma bebida de dia de festa ou domingo. Um litro de refrigerante dava pra família inteira. Hoje, a garrafa de 2,5 litros não dura até o final do almoço. As brincadeiras eram geralmente ao ar livre e exigiam muito movimento. Agora até o futebol pode ser jogado pelo vídeo-game, sentado em uma poltrona. Não é à toa que a incidência da obesidade vem aumentando tanto, sobretudo nos grandes centros urbanos. É preciso que a criança descubra outros prazeres além da comida, e os pais terão que ajudá-la nesse processo", orienta Dr. Geraldo, acrescentando que as compras de supermercado devem priorizar alimentos como leite e derivados e frutas. E guloseimas calóricas não devem de forma alguma ficar expostas em potes de vidro.

Teses de mestrado em nutrição já aprofundaram o estudo da importância de as crianças adquirirem, desde pequenos, vínculo com os alimentos. "Tem meninos e meninas que vão tendo à lanchonete, mas, quando voltam para casa, comem um prato de arroz e feijão. Porque já se criou o vínculo. Mesmo que o alimento seja menos atraente e sedutor, se o vínculo está estabelecido, não tem volta", conclui Ellen Paiva.

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